sábado, 28 de fevereiro de 2009

Com fabulando

Clarinha sempre gostou muito de escrever. Certa tarde ela sentou à frente de sua escrivaninha, tirou seu caderno enfeitado da gaveta e a canetinha azul de corpo branco que já estava posicionada num copinho no canto da mesa.

Abriu seu caderninho em uma página em branco e passou a língua na ponta da caneta pensando: "Hoje eu quero escrever uma fábula!!"

Mas quem seria o personagem principal? Aliás, o que seria o personagem principal? Ela queria ser original, mas todos os clássicos já haviam sido usados: cachorros, gatinhos, porquinhos, lobos... tem até aquela historinha em que o prato e a colher saem dançando pela rua enquanto a vaca pulava em direção à lua.

Pensou então em fazer algo bem diferente. Que tal um orninto... onirto... otorrino... "Ah não!" - pensou ela - "ornitorrinco é um bicho muito chato". Assim como ter que escrever essa palavra diversas vezes, não é mesmo?

Teve a idéia de escrever sobre peixinhos se aventurando ou o que os brinquedos fazem quando não estamos olhando. Percebeu que esses eram temas de flmes que ela tinha visto em suas últimas férias...

Nesse momento sua mãe, uma ovelha gordinha e muito amável, entrou em seu quarto:

- Clarinha, tem sorvete de chocolate na cozinha, vamos tomar?

- Oba!!

E saiu a pequena ovelhinha, saltitando em direção à cozinha, e largou sua fábula inacabada em cima da escrivaninha

Clarinha, nesse dia, aprendeu uma importante liçao: para escrever uma fábula original tem que estar com muita imaginação. Para tomar um sorvete, não.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Insônia

Eu bem me lembro de quando eu era criança e lavava o rosto para conseguir ficar acordado até tarde e ver o filme da sessão das dez... mas adormecia.


E quando eu era adolescente e no fim de semana tomava café, porque eu tinha a idéia fixa de que de madrugada passavam filmes fantásticos  e queria virar a noite(e não estava de todo errado. Alguns filmes de mistério e ficções eram muito bons).


Mas no fim das contas o sono nunca foi um problema para mim. Sempre fui condicionado a deitar, pensar em certas coisas e adormecer, ou deixar a TV no timer e dormir ouvindo seu som. A não ser de forma proposital, ou com algum problema físico, eu nunca ficava privado de sono..


Mas eu conheci a insônia. No fim do ano passado e início desses eu vivi , por um conjunto de fatores, esse pequeno inferno. A insônia é uma besteira pra quem nunca a teve. Eu achava ela até meio romântica - a pessoa bem desperta, acordada sozinha, no silêncio da noite, vendo o que ninguém mais vê, enquanto todos os outros desperdiçam seu tempo na terra dos sonhos.


Mas não... a insônia não é bonita. Ela é horrível... o pesadelo acordado.


Eu cheguei a ficar mais de 40 horas sem conseguir pregar o olho. E eu tentei. Deitava pra cochilar, fechava os olhos, tomava chá, relaxava. Mas o sono não vinha e o desespero era enorme. Ao fim dessas 42 horas eu já me sentia mais zumbi do que humano.


E depois eu ainda tive outros dias de insônia. A insônia é uma tortura... privar alguém de sono é um castigo físico e moral. E pode haver quem ache graça ou medo disso: eu vi e ouvi coisas nesse período. Mediunidade ou alucinação? (eu acabo acreditando que é um pouco de cada, mas sobre mediunidade eu deixo pra falar depois). E tem mais um detalhe da insônia: ela traumatiza. Por várias vezes enquanto a noite chegava eu já começava a ter o medo de que o sono não viria... simplesmente aterrorizante.


Atualmente eu estou dormindo a noite toda. Digamos que voltei ao normal. Só tem um pequeno detalhe: eu tenho a nítida impressão de que as sensações que eu tinha no sono, e de sono, antes da minha fase insone eram diferentes... eram melhores, mais gostosas. Talvez seja o trauma que ainda não passou... talvez alguma parte do meu cérebro esteja "queimada"... mas é diferente.


Eu já li que tem pessoas que passam cerca de 70, 80, 90 horas sem um minuto de sono... só sei que agora que eu experimentei um pouco disso acho essa idéia extremamente apavorante. Tenho pena delas...


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Que estória é essa?

A maioria de nós aprendeu, durante o ensino fundamental, que existem dois tipos de histórias. As professoras nos ensinavam que história estaria relacionada ao passado e ao seu estudo e a estória seria a família de gêneros como a narrativa, a fábula, e os contos de fadas. Mas afinal existe mesmo a palavra estória? Teria ela existido em outros tempos, mas hoje entrado em desuso? É necessária essa distinção?

É fato que o vocábulo já foi achado em registros medievais portugueses, mas ele em nada se diferenciava do significado da história atual. Aliás, em registros daquela época também se encontram os vocábulos estórea, istória, hestórea, o que revela mais um processo de definição e sedimentação da língua do que uma tentativa de variar seu sentido. No Brasil foi proposto por João Ribeiro em 1919 o termo estória para designar a narrativa popular e o conto tradicional, objetos de estudos dos folcloristas da época. O historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo também sempre defendeu a adoção de estória para que fosse possível uma distinção, assim como existe entre os termos story e history do inglês.

O professor Cláudio Moreno, da UFRGS considera desnecessária essa diferenciação, ainda mais sob o pretexto de ela estar presente em outras línguas e não no português. Afinal isso não é exclusividade da palavra história. Utilizamos a palavra escada tanto para designar aquelas feitas de madeira que encostamos na parede para pendurar um quadro, quanto àquelas fixas, construídas junto com o imóvel, com corrimão (respectivamente ladder e stairs no inglês). “O Espanhol designa com um único vocábulo (celo, celos) o que nós distribuímos por três: zelo, cio e ciúme. Invejamos o story do Inglês? Eles então devem ficar verdes diante de nosso ser e estar, distinção fundamental na vida e na Filosofia, que eles simplesmente desconhecem”, afirma o professor. Aliás, no universo das nações que falam o português apenas no Brasil foi tentada essa diferenciação. O professor José Neves Henriques, de Portugal, condena essa invenção e diz que “até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados”.

A verdade é que a estória, apesar de aceita por vários autores e até pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, nunca fez parte, oficialmente da história da língua portuguesa (de forma geral). E é por isso que todos nós podemos continuar lendo a história do Descobrimento do Brasil ou a história da Chapeuzinho Vermelho sem o medo de cometer um erro ortográfico.

(Autor: Guliver Lee – 24/11/2007)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Karmaval

Carma ou karma (do sânscrito कर्म, transl. Karmam, e em pali, Kamma, "ação") é um termo de uso religioso dentro das doutrinas budista, hinduísta e jainista, adotado posteriormente também pela Teosofia, pelo espiritismo e por um subgrupo significativo do movimento New Age, para expressar um conjunto de ações dos homens e suas consequências. Este termo, na física, é equivalente a lei: "Para toda ação existe uma reação de força equivalente em sentido contrário"

É mais ou menos o que acontece quando se passa 4 dias de paz e sossego, assistindo a filmes, lendo livros, vendo séries na TV e nadando na piscina. Aí, no retorno ao lar, existe um trio elétrico plantado na frente de casa e centenas de foliões participando de uma festa que acontece na quarta-feira de cinzas de todo ano única e exclusivamente nesta rua...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Samingo



Essa já é batida pra quem me conhece há algum tempo...

Um feriadão desses faz eu perceber que um fim de semana de dois dias é insuficiente para que um ser humano relaxe completamente.

Geralmente se tira o sábado para resolver coisas: compras, limpeza, curso... e de qualquer forma a pessoa ainda não relaxou completamente daquele último dia de trabalho em que teve algum abacaxi pra responder. Sobra o sábado à noite, mas aí já é quase domingo...

O domingo a pessoa tem que escolher: ou descansa ou se diverte. Os dois é impossível. Se saiu na noite do sábado então agora o negócio é descansar. Mas isso só até de tardezinha, quando vem aquele nozinho na garganta de saber que amanhã você já tem que acordar cedo para trabalhar/estudar.

O fim de semana de três dias seria glorioso, e o dia do meio, o "samingo", seria o mais fantástico de todos. Aquele em que você não estaria nem estressado com o dia de ontem e nem preocupado com o dia de amanhã.

No dia em que eu for presidente eu instauro o samingo... (nem que seja numa aventura de RPG)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Carnaval envelheceu

Foi-se o tempo em que o Pierrot morava em festas. Em fevereiro era coberto de confetes e serpentina, rodopiando alegre e risonho ao som de uma marchinha de carnaval.

Hoje em dia, em plema festa pagã, cá está ele, curtindo a programação da tv, tomando um copo de whisky, sua maquiagem já seca e se desfazendo, sua circunferência abdominal extremamente dilatada.

Em outros tempos ele se preparava para encontrar a Colombina. Ele bem se lembra do beijo que ambos deram no meio do salão. Mas nunca mais se falaram. E onde ela está?

A Colombina também envelheceu. Ela está pelo mundo, conhecendo lugares novos e vivendo outras histórias de amor. Ela também se lembra do beijo do Pierrot. E imagina o que aquele palhaço (no bom sentido de sua indumentária, claro), fez da sua vida. Ela ainda está sambando nos carnavais da vida, mas já pensa na hora em que se preocupará com seus pequenos indo ao baile.

E o Arlequim hein? Ah, o Arlequim não mudou nada. Está lá no meio da fanfarra, soprando uma cornetinha, puxando o trenzinho. Partindo o coração de outras Colombinas, enchendo de raiva outros Pierrots. Ele está esfuziante. Pelo menos até a 4ª Feira de cinzas, quando as luzes serão apagadas, os metais e tambores guardados, os confetes varridos do chão. E aí, mais uma vez, ele será o mais triste dos três.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cíclico

- Oi
- Er... oi, tudo bem?
- Tudo. Você já tá há muito tempo aqui?
- Não muito.
-...
-...
- É meio chato né?
- O que?
- Ficar aqui...
- Pra falar a verdade é.
- É meio branco isso aqui né?
- Humrum
- E com um pouco de cinza..
- Pois é.
- Mas então o que a gente faz aqui?
- Como assim "a gente"? Caso não tenha percebido, nós somos apenas letras, palavras, frases, compondo um diálogo um tanto quanto absurdo.
- Hã?!?!?!?!
- É sim. Você realmente acha que está falando? Você tem boca? Você tem mãos? Você tem pelo menos alguma estrutura física possível de um ser vivo?
- Pára cara, você tá me assustando.. aliás, eu acho que você é meio louco.
- Eu não sou louco, nem cara... sou só essas letras que estão formando este pequeno colóquio. E você também.
- Tá... eu acho que você pode ter razão... que coisa louca.
- Ah, to acostumado.
- Mas peraí... você falou "pequeno colóquio"... "pequeno"? Então quando esse texto acabar acabou? A gente já era? fim?
- É pode-se dizer que sim...
- Mas isso é como a morte! Você não liga?
- E o que eu posso fazer?
- Hmm... já sei!
- O que?
- Oi
- Er... oi, tudo bem?
- Tudo. Você já tá há muito tempo aqui?
- Não muito.
-...
-...
(...)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Pequenas vitórias

Quando eu era criança me encantava com muita besteira...


Tá... "besteira" é muito relativo. É o que a minha cabeça de gente grande - sem graça e chata, cheia de preocupações - não consegue mais dar valor.


Quando eu tinha 4 anos meu pai me dizia que queria que eu andasse de bicicleta sem rodinhas. E eu falava: "só quando eu fizer 5 anos!" Mas ele insistia. Eu me lembro que me importava com a missão de ter que andar de bicicleta, dar orgulho pro meu pai, e me achar mais (forte, ágil, foda). Primeiro eu comecei a andar com uma rodinha só. E depois finalmente andava sozinho (já não me lembro se foi antes dos 5 anos).


A mesma coisa foi quando eu nadei sozinho na piscina funda. Dessa eu me lembr quase perfeitamente. Acho que foi uns dois anos depois. Eu já fazia aula de natação em piscina rasinha, com prancha colorida e professora fazendo brincadeira. Mas foi numa festa de colegas dos meus pais em uma casa que tinha uma piscina que eu me aventurei. A festa era à noite. Meu irmão e outros coleguinhas nadavam na piscina, já eu ficava me segurando na beirada. E então, num momento de falta de raciocínio, de emoção além da razão eu me joguei... e vivi uma noite gloriosa, memorável. Eu mergulhava, eu atravessava a piscina. Eu desafiava os que duvidavam que eu conseguia encostar minha mão no fundo. E ao fim, após muitos: "paiii, olha!!! mãe, olhaaa!" eles queriam ir embora e eu não queria ir... porque a partir daquele dia eu era um nadador.


Outras vitórias e conquistas como estas vieram ao longo a vida (terminar de montar um quebra-cabeças, plantar bananeira no ginásio do colégio), mas aos poucos eu fui mudando o foco e valorizando pouco coisas do tipo.


Não sei se é porque crescemos e o mundo fica muito maior, mas pelo menos olhando pra dentro de mim eu sei que essas pequenas conquistas faziam eu me sentir melhor do que qualquer aprovação no vestibular ou convocação em concurso público.


Quem sabe já não esteja perto de eu reviver as pequenas vitórias.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

E volto mais uma vez...

Infelizmente não consegui migrar meu antigo blog pra cá. Até tentei mas tá complicado.

De qualquer forma a nova tentativa (esse já é o meu endereço de blog) é sair daquele velho diarinho ou daquelas tentativas frustradas de ter uma legião de seguidores que me comentassem todo dia...

Esse daqui é meu... meu espaço... meus textos. Um grito revoltado para afirmar a minha identidade. Fugir de um paradigma. Finalmente este sou eu?

Ficções? Contos? Fábulas? Crônicas? Loucuras? Quem sabe um pouco de cada.