quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Que estória é essa?

A maioria de nós aprendeu, durante o ensino fundamental, que existem dois tipos de histórias. As professoras nos ensinavam que história estaria relacionada ao passado e ao seu estudo e a estória seria a família de gêneros como a narrativa, a fábula, e os contos de fadas. Mas afinal existe mesmo a palavra estória? Teria ela existido em outros tempos, mas hoje entrado em desuso? É necessária essa distinção?

É fato que o vocábulo já foi achado em registros medievais portugueses, mas ele em nada se diferenciava do significado da história atual. Aliás, em registros daquela época também se encontram os vocábulos estórea, istória, hestórea, o que revela mais um processo de definição e sedimentação da língua do que uma tentativa de variar seu sentido. No Brasil foi proposto por João Ribeiro em 1919 o termo estória para designar a narrativa popular e o conto tradicional, objetos de estudos dos folcloristas da época. O historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo também sempre defendeu a adoção de estória para que fosse possível uma distinção, assim como existe entre os termos story e history do inglês.

O professor Cláudio Moreno, da UFRGS considera desnecessária essa diferenciação, ainda mais sob o pretexto de ela estar presente em outras línguas e não no português. Afinal isso não é exclusividade da palavra história. Utilizamos a palavra escada tanto para designar aquelas feitas de madeira que encostamos na parede para pendurar um quadro, quanto àquelas fixas, construídas junto com o imóvel, com corrimão (respectivamente ladder e stairs no inglês). “O Espanhol designa com um único vocábulo (celo, celos) o que nós distribuímos por três: zelo, cio e ciúme. Invejamos o story do Inglês? Eles então devem ficar verdes diante de nosso ser e estar, distinção fundamental na vida e na Filosofia, que eles simplesmente desconhecem”, afirma o professor. Aliás, no universo das nações que falam o português apenas no Brasil foi tentada essa diferenciação. O professor José Neves Henriques, de Portugal, condena essa invenção e diz que “até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados”.

A verdade é que a estória, apesar de aceita por vários autores e até pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, nunca fez parte, oficialmente da história da língua portuguesa (de forma geral). E é por isso que todos nós podemos continuar lendo a história do Descobrimento do Brasil ou a história da Chapeuzinho Vermelho sem o medo de cometer um erro ortográfico.

(Autor: Guliver Lee – 24/11/2007)

Um comentário:

ullissima disse...

Não posso evitar, eu escrevo estória quando se refere à ficção... foi uma regra forjada em mim com muito joelho no milho e palmatória.